O que é um alimento saudável?

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Quando as missões espaciais tiveram início, surgiu a necessidade de fornecer aos astronautas uma alimentação que fosse equilibrada para que as suas necessidades nutricionais enquanto em permanência no espaço fossem preenchidas. Esta necessidade de fornecer um alimentação adequada levou à criação de estudos que determinassem a composição alimentar, gastos de calorias diárias – para homens e mulheres – e necessidades nutricionais mais específicas como vitaminas, proteínas e sais minerais.

Se hoje quando compra um suplemento e esse suplemento contém no seu rótulo a dose diária recomendada muito é devido ao trabalho pioneiro dos laboratórios espaciais de nutrição bioquímica dessa época. Hoje qualquer alimento pode ser analisado até ao seu nível atómico e serem determinados os seus constituintes.

Atualmente esta possibilidade não se limita apenas aos laboratórios espaciais, qualquer empresa poderá ter acesso a pesquisas e realizar as suas próprias investigações. Uma vez analisados e determinados os constituintes de um alimento torna-se possível elaborar teorias sobre os seus efeitos específicos no corpo humano.

Estas análises e testes laboratoriais podem gerar a tendência em identificar vitaminas ou minerais que são consideradas benéficas e produzir “vitaminas engarrafadas”. Podem também ser identificados num alimento características altamente benéficas só porque tem um determinado elemento presente – surgem assim os súper alimentos. No caso dos suplementos estes podem conter dezenas de agregados de vitaminas ou apenas uma vitamina. O seu objetivo é o de colmatar deficiências alimentares que possam existir na alimentação moderna – segundo o seu tipo de atividade, género e e idade.

Assim, o ser humano comum – sem precisar de ir à lua – transforma-se também num astronauta que quando sai de casa para as tarefas diárias quer ter a certeza de que tem a nutrição adequada para as missões que lhe estão destinadas.

No entanto, o seu corpo não é uma máquina previsível na forma como estes suplementos são absorvidos. O efeito que um suplemento de vitamina C pode ter no seu organismo será diferente do que quando ingere vegetais de folha verde escuro como a couve portuguesa, rama de nabo ou brócolos – também estes ricos em vitamina C. Não significa que em ambos os casos esta vitamina não seja absorvida pelo organismo mas o seu efeito é diferente. Hoje em dia são cada vez mais comuns estudos sobre os efeitos adversos de suplementos que quando consumidos em excesso – muitas vezes para substituir uma alimentação e hábitos de vida deficientes – podem trazer complicações graves.

No caso dos alimentos ou súper alimentos surge o risco mediante toda a informação disponível de acreditarmos que os alimentos são como comprimidos nos frascos de vitaminas.

As próximas linhas que escrevo neste contexto são sobre o tomate. Um dos benefícios deste alimento é a presença de licopeno um agente considerado antioxidante e anticancerígeno. Contém vitamina C em mais concentração que outras vitaminas também presentes como a A e E, contém ainda minerais como o Potássio, Manganês ou o Crómio.

Numa perspetiva oriental escolher incluir o tomate na sua alimentação só pela presença destes componentes é esquecer observar o mundo de uma perspetiva panorâmica, é esquecer-se da outra parte da realidade do ponto negro ou branco no símbolo do Yin e Yang, que define que nem tudo que é mau é totalmente mau e que nem tudo o que é bom é totalmente bom.

Assim, O tomate é uma fruta ácida e como tal pode em alguns sistemas digestivos mais sensíveis criar acidez no estômago e mesmo refluxo ou piorar sintomas de cólon irritável. Quando enlatado poderá ter quantidades excessivas de sódio, a presença deste mineral está associado ao risco de osteoporose e doenças cardíacas.

As sementes do tomate contêm na sua composição cálcio e oxalatos. Significa que o seu consumo regular cria acumulações destas substâncias no aparelho urinário que pode traduzir-se a médio ou longo prazo em pedra nos rins.

O tomate é da família das solanáceas, tal como as batatas, beringelas, bagas goji e pimentos. Desde os anos 40 que foi desenvolvida uma teoria pelo horticultor Norman Childers (PhD) que relaciona o consumo destes alimentos com o agravamento dos sintomas artríticos. Para além de ter curado a sua própria artrite pela eliminação destes alimentos, Childers continuou as suas pesquisas escrevendo vários livros e conduzindo investigações sobre o assunto. Segundo as suas pesquisas este agravamento dos sintomas deve-se à acumulação gradual de solanina nas articulações. Este alcaloide auxilia estes vegetais a protegerem-se dos herbívoros pela sua toxicidade; é a cor verde que está presente nas batatas quando expostas a luz natural ou artificial, por isso no passado as batatas eram mantidas no escuro de forma a que esta substância não fosse produzida.

Embora nunca tenha sido demonstrado clinicamente a teoria de Childers de que a solanina afeta as articulações inibindo o colagénio e a regeneração articular, causando para além destes sintomas também inflamação, espasmos musculares, síndromes dolorosos e rigidez, é comum quem subtrai estes alimentos da sua dieta experienciar melhoras a estes níveis.

Faço-lhe por isso convite caso sofra – para além dos sintomas apontados por Childers – de inflamações em alguma parte do corpo, acidez no estômago ou obstipação que durante um mês experimente eliminar não apenas o tomate mas todas as solanáceas da sua alimentação – batatas, beringelas, pimentos e bagas goji. Depois de 30 dias sinta se existe alguma diferença significativa nos seus sintomas. Se sim poderá existir alguma intolerância a esse nível.

Esta experiência pode ser realizada em qualquer período do ano mas é mais eficaz quando realizada na primavera ou no verão. Para além de ser considerada uma prática que lhe permite desintoxicar das doses diárias de solanina que possa ingerir, permite-lhe também aprofundar o seu conhecimento sobre alternativas sustentáveis que substituam estes alimentos que consome regularmente.

O tomate é apenas um exemplo de que analisar um alimento pelos seus componentes, escolhendo apenas os mais saudáveis e esquecendo a complexidade das relações que podem estar presentes na sua ingestão, é como acreditar que apenas um alimento pode contribuir para a sua saúde – como se tratasse de um comprimido.

O tema da saúde e longevidade é mais abrangente que isso e não está restrito apenas a um alimento ou comportamento que promete uma série de efeitos benéficos.

Esta é a dualidade do Yin e do Yang em que não existem apenas benefícios nem malefícios mas uma dinâmica entre os dois. Quando é cultivado um padrão mental que assenta no abraçar desta complementaridade é mais fácil realizar escolhas alimentares equilibradas – baseadas na visão do todo.

A dieta fica mais variada, menos “mono alimentar” e restrita só aos alimentos que acredita que lhe fazem bem.

Não existem alimentos totalmente saudáveis e é o conhecimento do “como, quando e em que quantidade” – Como são ingeridos, Quando são inferidos e em que Quantidade estão presente nas suas refeições – que em conjunto com uma escuta ativa sobre os seus hábitos alimentares pode transformar cada alimento em mais que um medicamento mas numa viagem de possibilidades e descobertas ilimitadas.

Boas práticas.

Bibliografia:

  • J Am Coll Nutr. Role of dietary sodium in osteoporosis. Jun
  • 2008.http://noarthritis.com/nightshades.htm
  • https://en.wikipedia.org/wiki/Solanaceae
  • Macrobiotics for dummies

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