Viver sem Esforço

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Não está nas estrelas a capacidade de realizar o nosso destino, mas em nós mesmos. William Shakespeare

Num dos retiros de Chi Kung, que realizei na Toscana, lembro-me de durante um dos períodos de descanso, estar deitado na relva com a cabeça colada ao chão. Observava rebentos, de variadas plantas, de uma perspectiva o mais horizontal possível.

Quem já passou por esta experiência, ou por observar um qualquer rebento a crescer, pode também ter observado a quantidade da vitalidade ali presente, a segurança com que avançam em direcção ao céu e mesmo a sua resiliência quando são pisados. Em poucos minutos, estão de novo a demonstrar vitalidade e direcção. Tudo isto aparentemente sem esforço.

Esta imagem, ficou presente desde então, como uma imagem que procuro transportar para os meus dias – do que é viver sem esforço.

Se uma planta, pode demonstrar tanta vitalidade, direcção e flexibilidade, o que me impede a mim de não o conseguir também?

O conceito de destino

Segundo a Filosofia Chinesa, 命 (Mìng) expressa a ideia de destino. Este ideograma, é constituído pela parte superior que representa neste contexto o Céu. O “quadrado” à esquerda representa uma boca e o da direita um selo que é utilizado quando se assina um contrato ou um documento importante. Assim, destino para os chineses, é um contrato que é ditado pelo Céu, o qual assinamos e subscrevemos – antes de nascermos.

O que está escrito nesse contrato?

Está ai expresso, onde durante a nossa vida, nos comprometemos a investir a nossa Energia Vital. Se esse investimento for feito de acordo com esse contrato, então o Céu fornece energia para a sua realização. Se a vida for num outro sentido, diferente do contrato que foi assinado, o Céu não nos promove, nem suporta.

Quando apresento este conceito numa palestra, a pergunta que habitualmente me é colocada é : “Como é que eu sei qual é o meu contrato?”

Embora não seja directa a resposta, existe uma pista que nos é fornecida:

Se no final de uma tarefa, por mais extenuante que possa parecer, não existe a sensação de cansaço, pelo contrário, existe a sensação de frescura e leveza, então essa tarefa é algo que está relacionada com o seu acordo com o Céu.

Se uma tarefa, por mais simples que seja, torna-se extenuante e quando realizada a longo prazo leva a cansaço extremo ou esgotamento, então o que está a realizar não faz parte das cláusulas que assinou. É um outro contrato, não o seu.

Sem esforço, não significa assim fazer menos, significa fazer o que está de acordo com a sua natureza.

Fica o convite para refletir

Imagine que está a falar com alguém amigo, do que lhe desperta paixão, que lhe cria entusiasmo, que lhe faz brilhar os olhos, que lhe provoca pele de galinha e um arrepio bom pela coluna acima. Sente cansaço no final dessa conversa?

Qual era o tema desta partilha?

O que é que consegue realizar, horas a fio, sem se cansar?

Quando foi a última vez que se sentiu assim?

Frequentemente, ter acesso ao seu contrato, pode requerer ajuda.

Um pergunta honesta, a quem nos conhece bem, sobre em que altura fomos observados com essa energia imparável, pode também ser um bom começo.

Mesmo que tenha acontecido há muitos anos atrás, mesmo que tenha acontecido na infância ou adolescência.

Como se sente quando recebe a resposta?

Aceder ao seu contrato, é um processo de reflexão pessoal – é uma construção, ao seu ritmo individual.

Como construção humana que é, envolve tentativa erro, dúvida, experimentação pura e partir louça.

O que vai encontrar provavelmente nesta busca, é desafiante, requer adaptação, flexibilidade, menos distracções, requer lidar com a incerteza e renovação de processos numa base diária – até ao fim dos seus dias.

Porquê então dar-se a esse trabalho todo?

Porque é único, porque é seu.

Boas práticas.