Proteger vs fortalecer a imunidade.

imunidade

Quando comecei a estudar Medicina Tradicional Chinesa um dos conceitos que me surpreendeu foi aprender que as plantas atuam no tratamento das doenças não pela eliminação do fator patogénico – que está presente no organismo – mas sim fortalecendo o sistema imunitário do paciente para auxiliar este no combate e eliminação do mesmo.

Este é um dos conceitos que separa por enquanto as águas entre a abordagem ocidental e oriental de como encarar o tratamento de estados de enfermidade.

No Oriente é colocado ênfase no fortalecimento do indivíduo e se a doença se manifesta ou não é da inteira responsabilidade da qualidade e flexibilidade do seu sistema imunitário face aos movimentos do exterior.

Tradicionalmente não existe a frase “adoeci porque a pessoa ao lado me pegou a gripe”, mas sim a pergunta “O que posso fortalecer em mim para não adoecer?”.

No Ocidente o foco está em criar meios para que uma vez que a doença entre no organismo esta possa ser erradicada de forma frequentemente invasiva ou de criar barreiras de proteção para que a doença não chegue até ao utente que passivamente aguarda.

Em 2003 tive a sorte de estar a estagiar em Hospitais Chineses quando surgiu a S.A.R.S ou gripe atípica. A sua agressividade era tanta que sucedia com frequência um médico ou enfermeiro entrar no turno da manhã saudável e à tarde ter falecido. O mesmo acontecia com o cidadão comum chinês: levantar-se bem e cheio de saúde e já não chegar com vida ao fim do dia.

Nessa altura o governo Chinês lançou uma vasta campanha em que explicava não só regras básicas de higiene MAS também enfatizava a importância de fazer exercício físico, dormir um sono reparador, alimentar-se bem e fazer uma vida o mais possível ao ar livre.

O ênfase ia para o fortalecimento geral e na responsabilização de cada um pelo seu sistema imune como medida mais importante.

Existem assim duas abordagens: a passiva em que a proteção é realizada confiando maioritariamente em aspetos exteriores e o fortalecimento interno que tem como base a autorização e a responsabilização pessoal.

Medidas que protegem o sistema imunitário – passivas.

Medicamentos químicos: Eficazes em algumas situações, a longo prazo contêm efeitos secundários alguns podem mesmo enfraquecer o sistema imune com os antibióticos.

Produtos de limpeza das mãos ou do corpo: Em situações em que se necessita de desinfeção são bastante úteis. No entanto, a pele é um organismo também com defesas próprias e alguns desses produtos quando eliminam os organismos nocivos estão também a prejudicar as defesas naturais da pele.

Higiene: De extrema importância na vida em sociedade. A higiene e a assepsia exagerada torna o corpo incapaz de sobreviver a situações pontuais de sujidade ou falta de higiene. Quem já viajou pela China rural ou Índia entende o que eu estou a dizer. A responsabilidade quando alguém adoece durante uma viagem à Índia ou à China não é da China ou Índia, Se fosse um terreno tão agressivo para o sistema imune humano estes não seriam países tão densamente populados – seriam áridos como o deserto. Por outras palavras o sistema imune destes povos está a anos luz do sistema imunitário do ocidental comum.

Temperatura controlada: É possível hoje viver sempre com uma amplitude de temperatura muito baixa e ter acesso a uma temperatura sempre de agradável e estável onde quer que se esteja. Existe ar condicionado no trabalho, no carro e em casa. Com esta estabilidade quando existem variações de temperatura mais bruscas é mais fácil adoecer. O corpo precisa de sentir o frio e o calor, o conforto e o desconforto o corre o risco de se tornar uma flor de estufa.

Medidas que fortalecem o sistema imunitário.

Alimentação: Uma alimentação equilibrada é a base de um sangue forte e uma mente estável. Algumas culturas orientais como a Chinesa, Japonesa ou Indiana têm receitas e alimentos que contribuem para um fortalecimento do sistema imune. No ocidente quando se coloca a pergunta – “o que devo comer para fortalecer o meu sistema imune?”, deverá ser substituída antes por outra pergunta: “o que devo deixar de comer para fortalecer o meu sistema imune”.

Ai a resposta é mais fácil: proteína animal em excesso, açúcar, laticínios, café, álcool, drogas recreativas e ainda alimentos processados onde o “fast-food” se inclui.

Atividade física: Preferencialmente no exterior, fortalece o sistema imune. Os ginásios são uma alternativa dos tempos modernos, no entanto, nada substitui correr ou andar no parque, à beira do rio ou num bosque. Mas numa abordagem mais simplista entendamos que o corpo humano não é feito para estar fechado, sentado a uma secretária das 9 às 5. Este excesso de imobilidade deve ser compensado com mobilidade e ar fresco.

Ar livre: Reduzir o tempo que se passa dentro das grandes superfícies, transportes individuais ou públicos, cafés e restaurantes. Há coisas que por enquanto nem a melhor consola de jogos consegue substituir.

Sono: O corpo precisa de dormir. ponto. Dependendo das pessoas pode necessitar de 8 às 6 horas. Três pormenores importantes para um sono reparador:

  1. O quarto deve estar numa zona silenciosa da casa;

  2. Ir para a cama antes das 23h;

  3. Comer pelo menos 3h antes de dormir;

O sono é ainda o anti-inflamatório mais barato do mercado.

Chi Kung: O Zhan Zhuang Chi kUng é um método eficaz no fortalecimento do Sistema Imune. Pode ser utilizado em condições específicas ou gerais. As condições de auto imunidade poderão beneficiar grandemente com uma prática regular.

Estas duas abordagens a de proteção e o fortalecimento são importantes e complementares, mas segundo a medicina oriental a prioritária é o fortalecimento do sistema imune – a proteção externa é de facto secundária.

A ameaça não está fora e a intensidade que possa sentir como patogénica está na proporção que escolhe em delegar que “cuidem de si” ou assumir por direito a capacidade que tem de fortalecer o seu próprio sistema imune.

Boas práticas.

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