O mínimo sustentável

De 2000 a 2011 ensinei Chi Kung na Câmara Municipal de Oeiras a um grupo de cerca de 60 seniores.

Para alguns deles o Chi Kung foi uma paixão e uma descoberta, este artigo é sobre um destes alunos. Aqui vou referi-lo como o senhor Manuel. 

Este aluno era daquelas pessoas que no meu entender se houvesse um holocausto nuclear seriam as baratas, o guitarrista dos Rolingg Stones Keith Richards e ele que sobreviveriam. 

Nas conversas que tínhamos depois das aulas partilhava comigo que para ele a prática era algo que realizava após o pequeno almoço e que facilmente se estendia pelas duas ou três horas, em que calmamente, na sua horta, nas traseiras da sua casa fazia uma viagem diária e minuciosa, pelas várias propostas de exercícios que se ia recordando. 

Um dia o sr. Manuel deixou de aparecer, soube por outros alunos que tinha tido um acidente grave, mas que estava a recuperar bem. 

Completamente recuperado, reapareceu meses depois, tinha caído numa escada da sua casa e a perna tinha ficado debaixo do corpo provocando uma rotura de ligamentos.

A cirurgia para recuperar do acidente provocou-lhe uma paragem cardíaca durante a operação e por um fio a sua vida não tinha ficado por ali.

Relatava-me com todos os detalhes o sucedido; depois da operação estava na cama, imobilizado por causa do joelho, com o soro e todo “entubado” e depois, com um sorriso com pelo menos 60 anos menos que sua idade biológica disse: “Mesmo assim, conseguia fazer Chi Kung, conseguia respirar abdominalmente”

Para mim o sr. Manuel é um exemplo vivo das possibilidades que como seres humanos temos, sempre, mesmo em períodos em que existe estagnação, desafios ou uma característica de paralisia que a vida repentinamente pode manifestar nos nossos dias. 

Que nesses momentos, é a vontade de grandes realizações que paralisa, bloqueia e estagna e é o passo a passo, o momento a momento, e o mínimo sustentável que liberta e que abre caminho nos sentido da recuperação.

Boas práticas.