Macrobiótica, Vegetarianismo, Crudivorismo – Test Drive.

Aviso que este é um artigo grande – Tentei que ficasse o mais pequeno possível mas revelou-se uma missão impossível.

Espero que vos dê tanto prazer a ler como a mim me deu escrever.

“As a child my family’s menu consisted of two choices: take it or leave it. “– Buddy Hackett

Se no passado a alimentação era limitada ao que existia e que era cultivado num raio bastante próximo, hoje essa possibilidade foi expandida.

Cada vez mais é possível ter aquilo que se quer, comer independentemente das estações ou da localização geográfica. Além dos alimentos, também a informação que chega até nós permite aprofundar aquilo que se quer a este nível e escolher aquilo que queremos ser e comer.

George Ohsawa afirmava que o que comemos permite realizar os nossos Sonhos. Se for levado em conta que os alimentos são uma das bases para a produção de sangue e que a química do sangue vai ter um papel fundamental no nosso estado físico e emocional, esta frase pode ser bem verdade.

Quem é desportista de alta competição faz um regime específico, quem está em mosteiros também esta sujeito a certos tipos de alimentos pois a forma como comem vai influenciar o seu desempenho.

Seria curioso observar o resultado de alimentar monges Zen com batidos de proteí­na para “body builders” ou colocar os corredores de 100 metros a uma alimentação simples monástica baseada em arroz e vegetais.

Mas se estes dois grupos [e não só] se alimentam de forma diferente porque é que aqueles que querem criara possibilidades novas e desenvolver outros potenciais não seguem também regimes específicos. Alguns exemplos.

  • Uma alimentação específica para estudantes que lhes permitissem estar mais focados no estudo e mais relaxados na altura dos exames.
  • Uma alimentação para médicos e profissionais de saúde que lhes criasse mais endurance e maior clareza nas decisões.
  • Uma alimentação para professores de forma a serem criativos e a criar um estado físico mental propício ao ensino.
  • Uma alimentação para quem tem um trabalho físico exigente que criasse uma energia constante e duradoura
  • etc… etc… etc…

Houve quem já se desse ao trabalho de estudar os hábitos alimentares tradicionais dos povos quer no presente, quer no passado para chegar à conclusão que existiam em todas as civilizações, um cereal, um vegetal e uma sopa.

Em algumas situações poderia haver também proteína animal ou vegetal mas a base da alimentação era essencialmente – Um cereal , uma vegetal e uma sopa. Longe como estamos hoje da alimentação tradicional, quer em qualidade ou quantidade é natural que surjam formas alternativas de alimentação como complemento ou oposição outras existentes.

No meu universo tomo frequentemente contacto com três tipos. A alimentação Macrobíótica, Vegetariana e Crúdivora. Claro que depois existem variantes como a alimentação lacto-vegetariana, ovo-vegetariana, ovo-lactovegetariana… ou outros termos como fisheterian-vegetarianos que comem peixe [!!!!], flexatarians [vegetarianos “fléxiveis”]. Todos estes tipos de alimentações “novos” colocam questões que eu considero importantes como:

  • Para quem se destina?
  • Que possibilidades podem ser criadas por quem os consome?

Talvez pudesse ser importante perguntar-se o seguinte neste momento: “Que relação encontro entre aquilo que como e aquilo que quero ser?”

Em 1997 decidi mudar de alimentação baseada em bifes, queijo e salsichas ao pequeno almoço, para refeições à base de soja granulada, arroz e massa branca, saladas de alface com tomate e queijo fresco, e cereais das marcas saudáveis que a televisão anunciava, regados com leite de vaca e iogurtes da melhor qualidade.

Esta alteração trouxe mudanças profundas, uma delas é que passei o nao seguinte sempre doente e com pouca energia, a asma que tinha não diminuiu pelo contrário, tive crises de hipoglicémia grandes, o meu humor tornou-se instável e insuportável, continuava a comer doces e a consumir álcool e não senti nenhum estado de graça durante este período.

Pelo contrário.

Percebi um ano depois quando entrei para o curso de Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e mais tarde quando tive acesso ao Instituto Macrobiótico de Portugal, que havia alguns apetos a reparar e que esta ideia de deixar de comer carne não é só começar a comer vegetais e prontos já está! Mas que qualquer tipo de alimentação necessita de tempo de adaptação, estudo e reflexão.

Na minha experiência como especialista de MTC existem algumas razões porque as pessoas decidem mudar de alimentação.

  1. Questões de saúde. Todas as correntes alimentares tradicionais têm vertentes terapêuticas que são quando bem utilizadas muito eficazes.
  2. Auto descoberta – Criar novos padrões e abertura a novas tendências.
  3. Fatores económicos. Não me refiro apenas a questões monetárias quando se evolui de uma alimentação processada para uma alimentação mais tradicional existem duas situações que devem ocorrer: Mais energia e menos custos.
  4. Mudança de paradigma de vida e procura do que é essencial. A alimentação modifica o sangue, o sangue alimenta o corpo e a sua constituição química está diretamente relacionada com a forma como pensamos. Coloco sérias dúvidas que seja possível fazer uma mudança profunda e estável da visão do mundo ou da vida se não se mudar a alimentação. Sobre a alimentação e emoções pode ser importante consultar a obra de Katlhleen Desmaisons.
  5. Modas…. dá-me arrepios só de pensar nisso.
  6. Preguiça. Às vezes é mesmo só a única razão, na maioria das vezes com péssimos resultados.

Mudar para um alimentação tradicional exige na maior parte das vezes criar espaço para que essa mudança ocorra. Tem que ser investido tempo. Não tem que ser tudo num ano ou dois ou três, mas tem que gradualmente haver alguma dedicação a este processo. Lamento, mas ser vegetariano não é só comer saladas ou pedir batatas fritas regadas com mostarda nas lojas de fast food. Ser crúdivoro não só comer fruta e beber sumos assim como ser macrobiótico não é só comer arroz integral 365 dias por ano mastigado 200 vezes cada garfada.

Considere-se uma alimentação tradicional quando:

  1. Os alimentos estão de acordo com as estações do ano – tradicionalmente não há morangos no Natal
  2. Consome-se alimentos na mesma latitude geográfica ou provenientes da mesma área de residência – A fruta tropical e o açúcar não existiam não eram produzidos na Europa.
  3. Alimentos adaptada a cada tipo de pessoa, segundo o seu tipo de atividade, idade, sexo e estado de saúde.

Estas questões sempre estiveram presentes nas civilizações mais tradicionais esses povos comiam o que existia na estação em que estavam, no local onde habitavam, se trabalhavam mais comiam mais, se trabalhavam menos comiam menos e se estivessem doentes ou não comiam, ou comiam uma dieta mais apropriada ao seu estado de saúde.

Independentemente se comiam animais, se cozinhavam os alimentos, se eram nómadas ou sedentários estes fatores estão sempre presentes nos povos das culturas mais tradicionais.

Quando estes tipo de de alimentações são transplantados para os dias de hoje vão encontrar com alguma probabilidade cabeças e corpos totalmente desadaptados, disfuncionais e alheios ao que será a tradição alimentar da raça humana. Eu sei porque já estive ai também.

Existe por isso uma verdade a ter em conta “não é por ter resultado com o povo X ou Y com a pessoa Z ou W que vai resultar connosco” porque frequentemente esses povos viveram há muito tempo em contextos de cultura, localização geográfica e temporal muito diferentes das atuais.

Para além dos benefícios reais que estes tipos de alimentação têm, existem alguns fatores que têm de ser tidos em conta quando se muda de alimentação. Estes tipos de alimentação são ao mesmo tempo ciências e artes como tal necessitam de estudo e dedicação. Têm de ser praticados na totalidade.

  • Não adianta se assumir ser vegetariano quando se come açúcar e vegetais com pesticidas
  • Macrobiótico se só se frequenta restaurantes que servem este tipo de alimentação onde o ques se aprecia mais são as sobremesas
  • Ou ser crudívoro quando se utiliza ao mesmo tempo “super alimentos” e suplementos para fornecer “energia extra”. Alimento estes que são provenientes de países tropicais com um clima que não tem nada a ver com o nosso.

Não poderá ser responsabilizada qualquer tipo de alimentação ou corrente alimentar se não existe um conhecimento pelo menos básico da história, cultura e contexto onde ela é ou era praticada.

Aviso: A expressão “eu como aquilo que o meu corpo pede pode danificar gravemente a sua saúde”

Poderia descrever os efeitos de cada um dos tipos de alimentação e honestamente a minha ideia inicial seria dissecar vários tipo de alimentação, mas facilmente percebi que explicar cada tipo de corrente prós e contras facilmente se transforma num livro e que isso vai para além do âmbito deste blog.

Alguns destes tópicos são abordados no entanto no livro Regenerar.

A minha conclusão é que qualquer uma destas alimentações [vegetariana, macrobiótica e crudívora] têm vantagens quando são feitas de forma correta e com sabedoria quer teórica quer prática de outras pessoas que passaram pelo mesmo processo – podem ser consultados livros, mas o mais importante é falar ou conhecer pessoas ou grupos ligados a estas correntes.

Aviso: Não confiem em ninguém que não tenha feito algum tipo de alimentação alternativa de forma consistente pelo menos durante 15 anos.

Assim, resolvi referir dez pontos que poderão servir de alertas para que algo tem de ser direcionado e re-equacionado em termos de padrão alimentar. Independentemente do tipo de corrente que se segue.

  1. Falta de energia e libido
  2. Agitação física e mental
  3. Mãos frias e pés frios ou húmidas/os
  4. Diarreias ou prisão de ventre
  5. Atitude demasiado mental perante a comida – contar calorias, deixar-se guiar rigidamente por livros, “bíblias” ou correntes de pensamento
  6. Só falar de comida em tertúlias infindáveis em que os únicos a serem donos da razão “somos nós”.
  7. Tornar-se sectário para quem não pratica o mesmo tipo de alimentação
  8. Rigidez mental e física
  9. Falta de foco no dia a dia e na vida em geral – Atitude “peace and love” levada ao extremo
  10. Anemias que nas mulheres podem resultar em falta de menstruação

Estas situações revelam necessidade de fazer ajustes naquilo que se come e da forma com se come.

Outros com mais experiência deverão ser consultadas, por exemplo, para se obter uma maior clarificação destes processos que podem ocorrer.

A mudança ou a manutenção de um padrão alimentar deve resultar de uma ação consciente e não de modas. É importante para quem o faz – ou seja, para quem se alimenta do que quer que seja, entenda que a alimentação é uma ferramenta extremamente poderosa e que o provérbio chinês de que “aquilo que não faz mal também não pode fazer bem” seja mantido presente.

Como diria o meu professor e amigo Jvenal Branco – todos os alimentos têm contra indicações.

Um padrão alimentar não é uma fórmula rígida que contaria a própria vida que está sempre em mutação.

Manter este padrão flexível em conjunto com uma mentalidade recetiva é a forma mais orgânica de cada ser humano na sua individualidade acompanhar e participar no seu próprio processo de evolução.

Na direção do que acredita sr o seu sonho.

Boas práticas.

P.s. Se tivesse que ser imparcial e recomendar um livro apenas – Healing with Whole Foods: Asian Tarditions and Modern Nutrition – Paul Pitchford

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