Em Julho de 2000 estava no segundo ano de estudos de Medicina Tradicional Chinesa. Ia transitar para o terceiro ano. Nesse final de Julho antes de ir de férias dirigi-me ao responsável do local onde trabalhava em part-time e desejei-lhe boas férias e até Setembro.
A resposta que recebi foi: “Boas férias também para si, mas em Setembro já não vamos precisar dos seus serviços”
Aquele emprego permitia-me pagar o curso que estava a frequentar, a renda e a alimentação. Senti-me no vazio e atirado para uma viagem que queria que acontecesse mas que aconteceu cedo de mais.
Já tinha começado a dar aulas e a fazer algumas massagens, mas o valor mensal era muito abaixo do que me permitia sobreviver.
Nesse Verão enquanto Setembro se aproximava a passos largos e a solução não surgia muitas possibilidades passaram-me pela cabeça. Procurar outras atividades de todo não relacionadas com a Medicina Chinesa – trabalhar em lojas, como vendedor, voltar à programação de computadores, até pensei em escrever uma carta ao Richard Branson da Virgin a pedir um empréstimo.
Por fim mais pelo cansaço que por ideias brilhantes. Decidi fazer o que estava a estudar. Investir em aulas e nas massagens e fazer aquilo que realmente fazia sentido para mim. O facto de estar desempregado permitiu dedicar-me 100% ao que queria fazer e isso tornou-se uma vantagem importante porque me tornei dono do meu horário.
Hoje não sei se não tivesse sido despedido se estaria a fazer a tempo inteiro o que faço agora, ou estaria à espera do dia que fosse possível fazê-lo. Em que tivesse mais pacientes ou alunos e que a mudança pudesse ser feita limpa e sem risco.
Alguns leitores deste blog perguntam-me com frequência o que cria o click da mudança. Na minha experiência são as situações que não controlamos.
Despedimentos, relações que terminam inesperadamente, doenças que criam a obrigatoriedade de mudar, bancarrotas, acidentes graves, situações de quase morte, nascimentos inesperados.
Estas situações colocam uma e apenas uma possibilidade – a mudança.
No livro A Arte da Guerra de Sun Tzu conta-se a história de um general que recebeu ordens para investir contra um outro exército de número superior ao seu. Na manhã do ataque chegou-se aos seus soldados e enquanto estes tomavam o pequeno almoço destruí-lhes todas os pratos onde comiam e panelas onde cozinhavam. Disse-lhes: “Não vamos voltar para casa, vamos todos morrer neste confronto”. Os soldados quando perceberam que não iam voltar e que não havia nada a perder lutaram sem medo e venceram o outro exército superior em número e armamento.
Devolvo a pergunta a quem me escreve com a dúvida – do que é preciso para mudar? E essa pergunta é: O que terá de surgir para que a mudança aconteça que o/a deixe sem outra escolha? E a segunda pergunta: Se é mesmo o que quer muito, vai tomar essa iniciativa ou vai esperar que alguém lhe parta “os pratos onde come e as panelas onde cozinha?”
Boas práticas.