Uma reflexão sobre a imunidade

China 2003

Quando estava em estágio hospitalar na China era comum observar, na minha viagem de bicicleta diária para o hospital central de Nanjing, com algum espanto, que era possível transportar um cabrito aberto ao meio habilmente equilibrado na parte de trás de uma bicicleta.

Esta peça de carne era depois colocada sobre um jornal na rua e deixada aí até o talho abrir.

Por aí passavam cães, moscas, pessoas e o trânsito em frente ao talho.

Não será de admirar que a maioria de ocidentais que comia carne e estagiava na China acabava em alguma fase do estágio com problemas de estômago ou diarreias.

Escusado será dizer que para os Chineses comer desta carne não lhes trazia problemas de maior.

India, hoje e sempre

O Ganges é um rio sagrado, aí toma-se banho, lava-se a roupa, coloca-se os mortos, animais…

Faz parte da minha lista de viagens, um dia ver este rio na sua magnificência.

Penso que qualquer ocidental que tome banho aí poderá resultar numa série de complicações, algumas talvez bastante graves.

Escusado será dizer que para os indianos o Ganges é sagrado e como tal daí não pode vir mal – para quem vive na índia é claro.

East meets West (o oriente encontra o ocidente)

O fascínio pela cultura ocidental é algo que não pode ser negado pelos povos do oriente. Se no início era essencialmente a cultura, pouco a pouco a importação foi-se tornando mais complexa e cada vez se partilham mais elementos.

Se o nosso sistema digestivo se contorce com a carne de um cabrito armazenado com fracas condições de higiene, isto significa que a nossa história cultural e alimentar não nos preparou para tal tipo de alimento – ou pelo menos de um alimento nessas condições.

Se é necessário ser sujeito, como segurança, a uma bateria de vacinas antes de mergulhar no Ganges, significa que o nosso sistema imune é diferente de um sistema imune proveniente da índia.

Agora, imaginem que na China a alimentação é semelhante à nossa, os medicamentos são iguais aos nossos, os hábitos de vida sedentários gradualmente se vão tornando iguais aos nossos, deixamos de ter um cidadão Chinês passamos a ter um resultado de uma aculturação alimentar e química.

O resultado desta aculturação é o enfraquecimento de um sistema imunitário forte que gradualmente vai sofrendo com o açúcar, os lacticínios, a carne em excesso que é decerto mais do que estavam habituados a consumir no passado.

A cereja no topo do bolo é a subida em escalada do stress para ter e ser como o modelo ocidental de felicidade e riqueza.

Este sistema imune vai ficando desadaptado às condições que o rodeia – fica preparado para viver no ocidente mas não no oriente.

Assim cria-se o laboratório ideal para que qualquer vírus, num ambiente em que as condições de vida se mantiveram como no passado, encontre o terreno propício – sistemas imune enfraquecidos – para se propagar a uma velocidade fora de controlo.

Adicionemos o facto de que se fosse há três ou quatro décadas atrás esta epidemia passava despercebida e só está a acontecer porque as pessoas viajam muito mais que então.

Para que fique claro: o problema não é o vírus, o problema é o estado em que os sistemas imunitários se encontram e vão enfraquecendo á medida que “hábitos modernos vão sendo adquiridos”.

Há milhares de agentes agressores no ar que não se manifestam porque os nossos sistemas imunes não deixam.

Uma questão de desconexão

Isto passou-se em Lisboa, pelas 10h da manhã, três turistas com mais de 50 anos estão sentados na praça do Rossio.

Duas mulheres e um homem.

O homem cuidadosamente verte uma garrafa de litro de cerveja que divide por dois termos. Preparam-se assim para um dia de visitas à cidade.

No final e antes de saírem para a jornada uma das mulheres distribui pelo grupo creme desinfetante para as mãos.

Estão a ver a desconexão?

O álcool é inflamatório, sobrecarrega o fígado e enfraquece o sistema imune.

Por um lado bebe-se mas pelo sim e pelo não desinfecta-se as mãos.

Vamos lá então:

Alimentos potencialmente inflamatórios e que enfraquecem a imunidade:

  • Açúcar em todas as formas e feitios
  • Fast food
  • Lacticínios
  • Gorduras saturadas
  • Proteína animal
  • Refrigerantes
  • Frutos secos rançados
  • Hidratos de carbono simples – pão, massas, farinhas, arroz – brancos
  • Produtos com pesticidas como o caso dos vegetais
  • Ou produtos com resíduos de medicação como o caso dos produtos de origem animal

Outros:

  • Privação de sono – voluntária ou não
  • Stress

Numa situação de prevenção e terapêutica é mais eficaz suprimir os alimentos e comportamentos que procurar o alimento ou o suplemento com a promessa de uma protecção ou cura milagrosa.

O que podemos aprender

Para além da China onde tudo começou pode ser interessante compreender porque existem países mais afectados que outros, idades mais afectadas que outras e observar:

  • Que padrões alimentares têm esses países
  • Que medicação tomam mais
  • Que hábitos de vida têm

Fica a reflexão

A Fuga

Hoje alguém contava-me que atendeu um casal de turistas que partilharam que, como o país deles está cheio de pessoas doentes com o vírus, resolveram vir para Portugal para se sentirem seguros – tinham chegado há três dias.

De volta a 2003

Já vivi num clima semelhante com a SAR (Síndrome Agudo Respiratório) que provavelmente poderia ter tomado estas proporções se viajar em 2003 fosse tão fácil como é hoje.

Estava a trabalhar em hospitais em Nanjing e observei pânico, desespero, paranoia, medo de escassez, teorias da conspiração e reações humanas em massa, típicas destas situações, numa escala ainda mais elevada do que a que se vive neste momento.

Na altura alguém podia entrar ao serviço num hospital e á tarde ter falecido.

Nessa época concluí, e que depois foi reforçado pelos surtos de Gripe A e do H1N1, que quando existe um factor de stress desta natureza o mais perigoso e que pode casuar mais desassossego e caos nem é tanto o vírus mas sim as pessoas.

E é quando o caos e a desorientação humana se sobrepõe aos danos colaterais do vírus que este mais facilmente ganha terreno e pode pôr em causa a vida humana.

Boas práticas

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