Laozi, Dao De Jing

Adaptação e ilustrações de C. C. Tsai. Tradução para inglês de Brian Bruya, Princeton University Press, 2020

Dao De Jing (Tao Te Ching) é um dos clássicos do Daoismo (Taoismo), a par de Zhuangzi (Chuang Tzu) ou Liezi (Lieh Tzu). Num artigo de 2013, publicado no Journal of Language Teaching and Research, os autores – Yuan Tao e Fengjun Yu, ambos da Escola de Línguas Estrangeiras da Universidade de  Dalian, China – referem que Knut Walf, da Universidade de Nijmegen, Países Baixos, identificou 252 versões da obra em 17 línguas europeias, editadas entre 1816 e 1988. É, na verdade, um dos livros mais traduzidos do mundo, só atrás da Bíblia. Em português variante europeia, encontrei 9 traduções, sendo algumas delas estabelecidas a partir do original chinês.

Os debates em torno da autoria, da datação do texto e da compilação dos textos que o compõem são extensos e apaixonados. Lao Zi, um título honorífico que pode traduzir-se como o “O Velho Mestre”, é o putativo autor, que daria pelo nome de Li Er, sendo o seu nome de cortesia Boyang. Terá sido, segundo alguns investigadores, contemporâneo de Confúcio, o que o colocaria algures no século VI a.C.; outros historiadores modernos insistem que terá vivido no século IV a.C. 

Uma das lendas, relatada como facto pelo renomado  historiador chinês Sima Qian, nascido por volta de 145 a.C., é bem apelativa: desiludido com a dinastia Zhou, em declínio, e com as constantes lutas entre estados que teriam como objetivo assegurar o controlo do governo – que, em última instância, levaram à vitória do estado de Qin e à unificação do império chinês sob a dinastia homónima -, Laozi decidiu afastar-se da vida pública e partir para outras paragens. A certo ponto da viagem, terá chegado ao desfiladeiro de Xiangu, que era guardado por Yinxi, o qual lhe terá pedido encarecidamente que lhe escrevesse um livro contendo os seus ensinamentos. Laozi anuiu e, após ter escrito um livro com cerca de 5.000 carateres, em 81 capítulos ou secções, no qual fixou as suas ideias sobre o Caminho e a Virtude, o Dao De Jing, partiu e nunca mais ninguém soube dele. Não por acaso, algumas representações pictóricas de Laozi mostram-no montado num búfalo de água.

O autor desta “versão” do livro é C. C. Tsai (Tsai Chih Chung, Cài Zhìzhōng), um cartunista taiwanês, nascido em 1948, muito conhecido pelo trabalho de divulgação que tem feito de obras filosóficas e religiosas chinesas. As suas edições de clássicos chineses (entre os quais, A Arte da Guerra, de Sunzi, e Analectos, de Confúcio, ambos traduzidos para português) já venderam mais de 40 milhões de exemplares em mais de 20 línguas.

O seu objetivo é, parece-me, tornar mais acessíveis obras que, quer pela sua profundidade quer pelo seu afastamento temporal em relação à nossa época, são de difícil leitura. Para tal, o autor faz uso de texto explicativo e de ilustrações que são simples mas nunca simplistas ou redutores. A cada capítulo é atribuído um título, omisso no original, com que se pretende clarificar, desde logo, o seu conteúdo, ao mesmo tempo que se inclui o texto em chinês simplificado, para que quem conheça a língua chinesa o possa cotejar com a interpretação que C. C. Tsai dele faz nas tiras. Antes do Dao De Jing propriamente dito, o livro inclui, além de um curto prefácio, por Pico Iyer, e de uma introdução, esclarecida, escrita pelo tradutor para inglês, uma breve biografia de Laozi.

Para saber mais:

Em português, existem três traduções a partir do chinês (conheço apenas as duas últimas):

Dao De Jing, O Livro da Via e do Poder, Lao Zi, edição bilingue, tradução do chinês, notas e comentário de Cláudia Ribeiro, Edições Europa-América, 2004

Lao Tse, Tao Te King, Livro do Caminho e do Bom Caminhar, edição bilingue, com tradução e comentários de António Miguel de Campos, Relógio d’Água, 2010

Lao Zi, Tao Te Ching, Livro da Via e da Virtude, edição bilingue, com tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu, Vega, 2013

Para ir mais além:

Duas leituras do Dao De Jing: uma delas, destinada a praticantes de qigong; a outra, para quem estiver interessado em psicoterapia de inspiração somática (Método Hakomi), ambas fascinantes:

Lao Tzu, Translation and Commentary, The Dao De Jing: A Qigong Interpretation, Jwing-Ming Yang, YMAA Publication Center, 2018

Psychotherapy in the Spirit of the Tao-te ching, Greg Johanson & Ron Kurtz, Bell Tower, 1991

Boas leituras!
José Moura Carvalho

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